Mudança no juro turbina o ganho dos multimercados

Depois de meses amargando resultados pífios, os fundos multimercados foram à forra em agosto, superando com facilidade o Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI) no período, apontam dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Destaque absoluto entre as seis estratégias de multimercados acompanhadas pela Anbima, os fundos macro, por exemplo, fecharam o mês passado com rentabilidade média de 2,14%, o dobro do CDI, de 1,07%. Em segundo lugar apareceram as carteiras juros e moedas, com ganhos médios de 1,74% no mês passado.

Ampliar imagem
Tirando um ou outro fundo que conseguiu pegar a recuperação da bolsa no fim de agosto, os resultados dos multimercados espelham as mudanças no mercado de juros e nos preços dos papéis públicos que antecederam o surpreendente corte de 0,5 ponto porcentual da Selic, ressalta Rodrigo Menon, sócio da Beta Advisors. “Depois de meses de sofrimento, os gestores conseguiram aproveitar a mudança nas expectativas para a Selic e obtiveram ganhos muito fortes”, diz.

Segundo Menon, a maioria dos fundos realizou apostas prefixadas no mercado de juros futuros assim que surgiram sinais de que os Estados Unidos poderiam mergulhar na recessão, alterando as expectativas para crescimento e inflação no Brasil.

Muitos gestores também aproveitaram a valorização dos papéis públicos que remuneram o investidor com a variação do IPCA mais uma taxa de juros, as NTNs-B. Com a perspectiva de queda da Selic, os investidores correram para comprar esses títulos, na tentativa de garantir uma taxa de juros gorda e se proteger de um repique inflacionário. E muitos fundos surfaram essa onda de valorização. “Esse mix de mudança da curva de juros e ganhos em NTNs-B deu grandes resultados, principalmente para os multimercados macro”, diz.

Essas carteiras, cabe lembrar, buscam ganhos com apostas em ativos como câmbio, juros e ações, a partir de análises macroeconômicas. Ou seja, os gestores tiveram uma boa leitura dos desdobramentos do cenário externo sobre a economia local. E a perspectiva, diz Menon, é de que os multimercados macro apresentem ganhos elevados também este mês, em razão do ajustes do mercado de juros após a decisão do BC de dar um talho na Selic.

O mercado de juros, lembra Menon, apostava em corte de 0,25 ponto da Selic. Como a redução foi de 0,50 ponto, houve um movimento de diminuição da expectativa para a Selic no fim do ano em 1º de setembro, dia seguinte ao corte dos juros. “Isso vai se refletir na rentabilidade dos fundos agora em setembro”, afirma Menon.

Mesmo com resultados animadores, os multimercados fecharam agosto com saques líquidos – resgates menos aplicações, sem contar a rentabilidade – de R$ 1,036 bilhão. Mas a aposta é de que a captação volte ao azul, já que os aportes tendem a crescer quando a rentabilidade sobe.

Apesar da reação dos multimercados, os campeões de rentabilidade em agosto foram os fundos renda fixa índices, que concentram as apostas em papéis públicos ligados à inflação, com rentabilidade média de 4,03%. Foi um resultado muito superior ao das carteiras de renda fixa tradicionais, que renderam em média 1,27%. Na esteira dos ganhos polpudos, a categoria renda fixa fechou agosto com captação líquida de R$ 3,02 bilhões, quase metade do volume atraído pelo setor de fundos no mês passado, de R$ 7,896 bilhões.

A despeito do vaivém alucinante da bolsa e da queda de 3,96% do Índice Bovespa no mês passado, os fundos de ações registraram saques líquidos de apenas R$ 11,49 milhões no período. Isso porque houve retiradas de R$ 118,63 milhões nos últimos cinco dias úteis do mês. Caso contrário, as carteiras teriam terminado agosto com entrada líquida de dinheiro. No acumulado do ano, os fundos de ações perdem R$ 779,81 milhões, na esteira de um tombo de 18,48% do Ibovespa no período.

A perspectiva de novos cortes na Selic até o fim do ano pode impulsionar a bolsa, afirma Alexandre Espírito Santo, economista da Way Investimentos e professor da ESPM-RJ e Ibmec. “Como eu não trabalho com um cenário catastrófico lá fora, acho que o investidor pode aproveitar esse momento para aumentar a aposta na bolsa”, diz Espírito Santo, que recomenda alocação de 30% do portfólio em ações.

O economista descarta a possibilidade de recessão nos EUA ou quebra de bancos na Europa, o que poderia levar a uma onda violenta de aversão ao risco e derrubar a bolsa. A perspectiva é de crescimento minguado da economia global. “Mesmo sem o pior cenário lá fora, o BC deve cortar mais juros, acho que não tem como voltar atrás agora, e isso vai dar gás novo para a bolsa”, afirma Espírito Santo, que aposta em Selic a 10,5% no fim do ano. Fonte: Valor