Durante o mês de março, acentuou-se a velocidade do contágio do coronavírus globalmente, forçando os governos a expandir o alcance das medidas de isolamento social recomendadas pela OMS, o que resultou em uma contração ainda mais severa da atividade global. Soma-se a este cenário adverso, o duplo choque sofrido pelo petróleo, de demanda, derivado da contração das economias, e de oferta, produto de uma guerra de preços travada entre Rússia e Arábia Saudita. A resultante deste contexto adicionou ainda mais volatilidade aos ativos, ocasionando disfuncionalidades em muitos mercados e a consequente aversão a risco dos agentes, em um processo bastante deletério para a grande parte dos mercados.
Por outro lado, a ação dos governos foi, em muitos casos, rápida e com grande intensidade, principalmente com o objetivo de fornecer estímulos nos âmbitos monetário e fiscal, sendo que, com relação a este último, foram propostos pacotes robustos de suporte às áreas de saúde e demais empresas, com extensão à população desamparada. Quanto ao ponto de vista monetário, verificou-se amplo ajuste nas taxas de juros, com grande parte dos bancos centrais reduzindo suas taxas básicas, muitas vezes em reuniões extraordinárias, ao mesmo tempo em que colocavam em prática agressivos programas de compra de ativos.
No que se refere ao cenário local, não há descolamento, ou seja, o Brasil, em linha com os demais mercados, também vem sendo impactado pela pandemia e, de forma análoga, o governo e sua área econômica vem adotando medidas similares, com o intuito de amenizar os impactos da recessão que se avizinha. Neste sentido, foram anunciadas medidas para aumentar a liquidez no mercado financeiro, notadamente com o objetivo de ampliar a oferta de crédito a pequenas e médias empresas, além de ofertas adicionais de moeda estrangeira, entre outras.
Em relação à atividade, uma recessão é a estimativa para o cenário base de 2020, e sua magnitude está correlacionada à duração da paralização dos diversos setores da economia. Soma-se a isto, o fato de haver um alto grau de incerteza no que tange às decisões de investimento e consumo. Como resultado desta equação, espera-se um IPCA em níveis inferiores ao piso da meta, associado a afrouxamentos monetários adicionais por parte do BC.
Em relação aos ativos, observou-se o Ibovespa registrando uma queda da ordem de 30% no mês, em linha com outras bolsas em mercados desenvolvidos e emergentes. Na Renda Fixa, houve correções significativas, observando-se uma grande aversão a risco associada a uma crescente procura por liquidez. Até mesmo ativos que tendem a se apreciar em crises, a exemplo do ouro e dos títulos de dívida do governo americano, sofreram, evidenciando esta corrida por liquidez. Em Crédito Privado, tivemos em março forte abertura dos spreads, devido aos altos resgates que ocorreram na indústria de crédito. Diversos fundos precisaram vender os ativos em níveis de preço incompatíveis com a qualidade de crédito das empresas, provocando uma forte abertura dos spreads dos ativos e até mesmo distorção de preços entre ativos com níveis diferentes de risco. Na nossa visão, as medidas adotadas pelo BC até o momento já demonstram alguns efeitos no mercado e acreditamos que ao longo das próximas semanas esses impactos serão mais evidentes e com maior intensidade, contribuindo para o ajuste do nível de spread dos ativos, beneficiando de forma mais intensa os ativos de primeira linha.
Em relação ao cenário prospectivo, reiteramos que o timing de uma retomada da economia está associado ao tempo de duração deste isolamento social, bem como dos resultados desta estratégia no combate à epidemia. Por fim, abre-se um cenário de oportunidades adiante, ainda que, por ora, não esteja claro o momento mais adequado para um aumento de risco de maneira consistente.