Cresce a previdência complementar fechada

A indústria de fundos de pensão ou o grupo de entidades fechadas de previdência complementar tem elevado cada vez mais sua participação e importância como investidor no mercado financeiro brasileiro. No ano de 2011, a carteira consolidada dos fundos de pensão apurada pela Abrapp atingiu a rentabilidade de 9,80%. Os investimentos em renda fixa, que representam 61% dos ativos, proporcionou retorno de 13,32%. As aplicações em renda variável, que fecharam o ano com alocação de 30,1% dos recursos, rentabilizaram 1,35%. Os imóveis geraram retorno de 31,07%, maior rentabilidade obtida dentre os seg¬mentos. A rentabilidade alcançada pelo sistema representa cerca de 79% da meta atuarial medida pelo INPC+6% (12,44%).
O diretor-presidente da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), José de Souza Mendonça, concedeu entrevista ao Jornal do Comércio (Porto Alegre), que reproduzimos abaixo

Qual é atuação dos fundos de pensão como investidores?
A característica dos recursos geridos pelos fundos de pensão é de longo prazo. Ou seja, juntar patrimônio para pagar benefícios comprometidos em 30 anos de aposentadoria. Dessa forma, todas as aplicações são a longo prazo. Como investidores, os fundos entram na economia e giram por muito tempo suas carteiras, por não estarem em busca de ganho rápido e fácil. Esse é a primeira grande vantagem de um fundo de pensão como investidor institucional. Atualmente, são quase R$ 600bilhões em carteira. Isso representa 15% do PIB brasileiro, já que boa parte dos recursos estão no mercado interno. Recentemente, começou a se falar em aplicações no exterior. Mas ainda elas representam muito pouco, cerca de 0,1% dos recursos totais.

Qual é tamanho e a representatividade desta indústria no Brasil?
Hoje temos 368 entidades de previdência complementar fechada. De 1995 para 2010 o número de fundos geridos por esse universo aumentou muito, e atualmente, são cerca de 2 mil planos. Apesar do forte incremento, ainda não é proporcional às pessoas economicamente ativas no Brasil. Atualmente, são cerca de 92 milhões, e apenas 3 milhões são beneficiárias destes fundos. Por isso e considerando as condições de renda atuais, estimamos que cerca de 30 milhões de brasileiros teriam condições de se tornarem beneficiários destes fundos.

Qual é o potencial desta indústria como veículo de investimento e poupança?
Estamos neste patamar (em número de beneficiários) porque não há consciência no Brasil sobre preparação para a aposentadoria. É também uma característica do funcionalismo público, sinônimo de estabilidade econômica por muitos anos no país. Os primeiros fundos de previdência complementar fechados vieram de empresas públicas – Caixa, Petrobras, Banco do Brasil. Eram órgãos públicos que garantiam a aposentadoria da população brasileira e se preocupavam com isso. Atualmente, estamos tentando levar essa mentalidade para as companhias privadas. Do universo de 368 fundos, 266 fundos já são privados, 45 são estaduais e 84 são públicos. Mas esses ainda são os maiores. Só para ter uma ideia, a Previ, a Petros e a Funcef são juntas responsáveis por quase a metade do patrimônio.

Quais são as diferenças do Brasil em relação a outros países?
Em muitos aspectos é diferente. Na Holanda, por exemplo, os fundos representam mais de 100% do PIB. Na Suíça, todas as empresas e entidades têm fundos de pensão. Eles tem fundos setorias, por exemplo, das empresas de construção civil. Uma outra diferença é a legislação específica. Aqui os fundos fechados são para determinada empresa. Já estamos tentando implementar os setoriais.

Qual é a expectativa da atuação e participação destes fundos diante da queda de juros no país?
Há alternativa para a queda dos juros. Os fundos podem encontrar rentabilidade em diversos outros ativos, como shoppings, obras de infraestrutura, hotéis. Agora mesmo a Previ está investindo no aeroporto de Guarulhos (SP). O que quero dizer é que a criatividade humana é algo que não se esgota. Pode diminuir um pouco os juros no Brasil, mas isso só vai exigir mais criativa dos gestores. No entanto, isso significa que os fundos provavelmente correrão mais riscos, mas sem abrir mão da prudência necessária. Enfim, continuaremos em busca do aprimoramento dos controles de riscos”. (Jornal do Comércio)