Envelhecimento poderá duplicar os gastos

A transformação demográfica do país, com o aumento da expectativa de vida e da parcela de idosos na população, vai duplicar os gastos públicos na área social até o ano de 2030. Ao final da próxima década, aponta a Folha de S. Paulo, os maiores de 40 anos -hoje, menos de um terço- serão quase metade dos brasileiros; já os maiores de 60 saltarão de um décimo para um quinto do total.
União, Estados e municípios terão que arcar com a conta do envelhecimento que vai gerar mais encargos com aposentadorias, pensões, assistência social e serviços de saúde. E continuarão diante da necessidade de elevar a qualidade da educação.
As projeções constam de estudo assinado por Paulo Tafner, economista, e Márcia de Carvalho, estatística, sobre o futuro dos programas sociais e possíveis alternativas para reduzir a pobreza. Intitulado “Rumo a uma política social flexível”, o texto faz parte do recém-lançado “2022: propostas para um Brasil melhor no ano do bicentenário”, coletânea de artigos organizada pelos economistas Fabio Giambiagi e Claudio Porto. Os autores apontam que a economia do país terá de crescer em média 4% ao ano de 2010 a 2030 para produzir o aumento de arrecadação necessário para acomodar a expansão de gastos sociais decorrente da nova demografia. Ou seja, o Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país), precisará dobrar. Para efeitos de comparação, entre 1990 e 2010, a taxa de expansão anual média do país não passou de 2,7%. No acumulado, ela foi de 75%.
Previsivelmente, a maior fonte de despesas adicionais nos próximos anos será a Previdência. Os autores estimam que o aumento da clientela elevará em mais de R$ 300 bilhões ao ano os encargos com aposentadorias, pensões e assistência a idosos. A projeção considera as atuais regras de acesso aos benefícios, que estão sujeitas a mudanças. Mas o governo Dilma Rousseff negocia trocar o fator previdenciário, que hoje reduz os benefícios de quem se aposenta mais cedo, por outra fórmula, que segundo técnicos do governo poderá ser mais vantajosa para os trabalhadores.
Reorientação dos recursos – Os próximos 20 anos serão a melhor -e talvez a última- oportunidade para a eliminação da extrema pobreza no país, na avaliação do economista Paulo Tafner. Ao longo da maior parte desse período, a população em idade ativa, que tem entre 15 e 60 anos, vai se manter em crescimento, o que contribuirá para a melhora da renda. No final da próxima década, esse contingente deve começar a cair, enquanto o de idosos continuará em alta.
“Se nós não erradicarmos a pobreza até lá, seremos velhos e pobres”, diz Tafner, pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e secretário-executivo da Fazenda do Estado do Rio de Janeiro. Por conta disso, o economista defende a reformulação dos orçamentos da área social. O inevitável aumento das despesas públicas em previdência, saúde e educação, avalia, será pouco eficiente para a parcela mais carente da população. Por esse raciocínio, os idosos com benefícios vinculados ao salário mínimo já estão a salvo da miséria.