Relatório Mensal de Investimentos

No mês, o ambiente internacional seguiu atento às notícias referentes aos novos focos de infecções por COVID-19 em diversas partes do globo, entremeadas pelos dados sobre os avanços nas pesquisas sobre vacinas. Nas principais economias já se verificou importante recuperação na produção industrial e no consumo de bens, de forma que a manutenção desta recuperação, dependeria agora do setor de serviços.

 Nos EUA, as atenções dividiram-se entre os recorrentes embates com a China, o aquecimento do debate eleitoral e a negociação entre o Congresso e o Executivo sobre o tamanho da nova rodada de estímulo fiscal, ainda sem consenso. Após sucessivos recordes de alta, as principais bolsas internacionais ingressaram em um processo de correção no início do mês, o que gerou especulações sobre eventual “estouro da bolha” no mercado de ações de tecnologia.

 Com sinais crescentes de retomada da economia global pós-choque da pandemia do novo coronavírus, além de elevada liquidez e manutenção de juros baixos por um longo período, parece provável a ocorrência de uma saudável realização de lucros, e não de uma ruptura neste momento.

No Brasil, a atenção voltou-se a questões ligadas ao financiamento do programa de assistência proposto pelo governo e ao andamento da reforma tributária. Observando-se os dados econômicos, verificou-se ao longo dos últimos meses, um incremento relevante nos preços aos produtores, derivados principalmente de três fatores, a saber: o aumento nos preços das commodities internacionais, a depreciação do real e o aumento da massa de renda brasileira com programas governamentais.

Esta alta de preços aos produtores começa a ser repassada para o consumidor. O IPCA-15 subiu 0,45% em setembro, ou 0,22 ponto percentual (p.p.) acima da taxa de agosto (0,23%) e o maior resultado para um mês de setembro desde 2012, pressionado principalmente pelos alimentos, mas deve haver pouca contaminação nas medidas de núcleo. Os preços de alimentos são mais voláteis e estão subindo por causa desses choques de oferta e do maior nível da massa de rendimentos, que subiu durante a crise em função do auxílio emergencial.

A diminuição e, posteriormente, o fim do auxílio emergencial nos próximos meses também devem tornar ainda menor a chance de essa alta de preços de commodities ser repassada para outros preços, impedindo que as expectativas de inflação desancorem da meta.

O Comitê de Política Monetária (Copom) que ocorreu no dia 16 de setembro votou pela manutenção da taxa Selic no seu nível mínimo histórico, de 2% ao ano. Expectativas bem ancoradas e o elevado hiato do produto corroboram para a manutenção da taxa básica em patamar extraordinariamente estimulativo.

Ademais, é imposta cautela à política monetária em virtude da recuperação em curso da economia, das pressões inflacionárias no atacado e, principalmente, da percepção crescente de riscos fiscais.

O mês de setembro foi marcado pelo aumento de volatilidade e pela queda de preço dos principais ativos de risco, com os agentes econômicos atentos aos EUA, que segue discutindo novo pacote de estímulos, agora em meio ao debate eleitoral.

 Ao mesmo tempo, no Brasil, o ambiente seguiu suscetível às discussões das reformas econômicas e principalmente sobre a manutenção do teto de gastos públicos em 2021, acentuando as preocupações relativas ao risco fiscal. Neste sentido, o mercado de juros continuou sofrendo um movimento de abertura da curva, em meio às discussões estruturais quanto à situação das contas públicas.

Adicionalmente, no mês, o Ibovespa caiu 4,8%, acumulando queda de 18,2% no ano, e esta queda, pelo segundo mês consecutivo, pode ser creditada à incerteza político-econômica, notadamente sob a ótica fiscal. Para os ativos de crédito privado, observamos a continuidade do desempenho positivo dos ativos, com destaque para o segmento corporativo.

Ressaltamos que a trajetória prospectiva fiscal continuará no centro das atenções dos agentes econômicos no Brasil, enquanto aguardam por uma definição de estratégia do governo federal para avançar com as reformas no Congresso, principalmente a PEC do pacto federativo, que definirá cortes em despesas para abrir espaço ao financiamento de um novo programa de renda mínima. Também são esperadas mais sinalizações sobre o novo regime fiscal, que pode envolver um novo imposto e alterações no atual sistema tributário.